sexta-feira, março 17, 2006
Aconteceu num subúrbio de uma pequena cidade ilhada em meio à grandiosa floresta Amazônica. Uma mulher, cuja faixa de idade foi estimada entre 48 e 79 anos, foi observada num estabelecimento comercial olhando para um saco de farinha. Era uma farinha simples, e o dia estava ensolarado como de costume. A senhora argüiu deste repórter, algumas horas antes do almoço, o que era aquilo dentro daquele saco. Convém salientar que a senhora provinha de uma vida no campo, com pouco contato com o chamado mundo civilizado, o que podia ser visto em seu sotaque carregado de mulher indígena dos povos condenados ao bottleneck genético na América do Sul. O repórter esclareceu com simplicidade - é farinha, minha senhora. Os olhos da senhora abriram-se de chofre, revelando um olhar capaz de carregar ainda a misteriosa fascinação frente à realidade, mesmo tendo vivido tantas décadas. Sua curiosidade talvez tenha sido saciada quando este que vos fala explicou que o produto fascinante se chamava farinha de trigo, sendo o trigo um outro tipo de planta, cultivado em terras distantes, e trazido de outras terras mais distantes ainda. A senhora agradeceu e colocou o pacote, caro, cuidadosamente em seu lugar. Depois disso uma nuvem começou a riscar o horizonte e a tarde continuou passando. - RLD
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