sábado, março 18, 2006

Ephemeris Vita, Ano I, Vol 8

Vida, Belo Horizonte, 2006...

No dia de sábado, 18 de março do presente ano, um rapaz de 23 anos acordou e foi tomar o seu café da manhã. Para isso, correu a esquentar a água, e dessa forma, fazer o café.
“O ruim de fazer o próprio café - me relatou o rapaz- é que o café dos outros tem um cheiro muito melhor que o nosso...sabe né, quando a gente faz o café, a gente já fica ali misturado com aquele cheiro todo, e acaba não tendo o momento de consciência maior produzido pelo cheiro do café.” Eu havia me dirigido para a casa do rapaz depois do desenrolar de um fato espantoso. O relógio da copa havia estragado. O relógio parou, e sem saber disso, o jovem rapaz achava que eram 10:20, quando de fato já passavam das 11.
Olhando o relógio parado, o rapaz ficou muito espantado, pensando se não seria o tempo mesmo que havia parado. “Todo relógio parado traz a possibilidade real de ser o tempo que tenha parado, você entende, né, como naquela musica do Raul, O Dia em que a Terra Parou, conhece?” Conhecia. Ele olhou praquele relógio estático, durante muito tempo, e pensou também que “ora bolas, se até o próprio relógio parou, porque que será, que as pessoas não podem também parar às vezes e pensar, contemplar”.
O rapaz ficou espantado o resto do dia com o relógio estragado e ficou pensando muito sério, se não é a gente mesmo que serve de relógio pro relógio. “Ele (o relógio) olha pra gente e fala, ‘são 12:13 porque aquele menino tá ali na décima garfada’”.
Eu acabei indo embora meio tonto disso tudo, e agora mesmo estou muito desconfiado que os relógios estão me olhando e acertando os ponteiros.
R.p.B.