terça-feira, março 21, 2006

Ephemeris Vita, Ano I, Vol 9

Ansiedade

Londres, UK.
Quinta-feira, 16 de março de 2006.

Saí de casa já ansioso por saber que iria estar cara-a-cara com meu maior ídolo, durante anos, naquele dia. Poderia ter colocado uma roupa melhorzinha, mas não ligo para essas coisas. Peguei o ônibus e segui lendo um livro maluco de autor russo que no momento não me recordo o nome, mas que certamente termina ou "kov". Parei de ler o livro logo que o ônibus se aproximava de Londres e fiquei olhando as construções e as pessoas naquela cidade globalizada. Os prédios em Londres não são altos e a cidade tem, no entanto, 7 milhões de habitantes, no que se conclui que a cidade deve ser mais extensa do que o normal. Além disso, vale notar, Londres é a única cidade de dois andares que conheço, pois há uma cidade subterrânea, há construções inteiras enterradas no chão e há vários andares de linhas de metrô que nos fazem questionar o conceito de chão que tinhamos anteriormente. A ansiedade foi enorme durante todo o dia, apesar de só ter me dado conta disso à noite. O museu de história natural, que ansiava tanto por conhecer, visitei com tanta pressa que nem reparei direito, mas lembro da réplica de um tiranossauro rex que assustava as criancinhas. Havia ainda os mais diversos animais empalhados e também uma seção de animais conservados, com espécimes exóticos. A observação dos esqueletos de alguns dinossauros nos dá uma convicção de que eram mesmo estes seres ancestrais das aves, pois alguns não passam de galinhas gigantes. No museu da Terra, entramos por uma escada rolante dentro de um globo terrestre, algo que impressiona e no museu de ciência o que mais me impressionou não foi o modelo da dupla-hélice que o Watson e Crick fizeram para entender a estrutura da dupla-hélice do DNA, nem a câmara de controle da Apollo 11 e nem mesmo um míssil de mais de dez metros de comprimento, o que mais me impressionou foi a paisagem futurista do local, principalmente da lanchonete penumbral com luzes vindo de dentro das mesas transparentes, é incrível, dá a sensação de ter entrado numa máquina do tempo e acionado o botão "futuro". Uma hora antes do evento ao qual viera à capital assistir, já estava à porta e já havia fila. Se não fui o primeiro, nem o segundo, estava entre os trinta primeiros e certamente conseguiria um lugar bom para ver meu ídolo. À porta, livros de sua autoria eram vendidos para posterior autógrafo, mas meu dinheiro havia se esgotado previamente. Não aceitavam cartões de crédito. Quando entrei, sentei-me muito próximo ao palco e assisti com interesse às palestras de outros ídolos não tão grandes quanto o primeiro. Daniel Dennett e Mark Ridley deram palestras interessantes na celebração de 30 anos da publicação de um dos mais famosos livros da história da biologia e da evolução, livro este que você deveria ler, se não o fez ainda: "O gene egoísta". Richard Dawkins, o tal, subiu ao palco enquanto meu coração batia acelerado e falou apenas coisas sensatas, como tem feito nos últimos 30 anos e provavelmente desde antes ainda, quando não o conhecia. Falou que o nome do afamado livro poderia ter sido outro e que muitos já têm preconceito pelo título, pois não entendem a evidente metáfora. Comentou de outros livros e falou de muitas coisas, mas terminou sublimemente dizendo que nós humanos somos a única espécie consciente da tirania dos genes e que devemos sim ensinar e espalhar o humanismo, a generosidade, a comunhão entre as pessoas e o altruísmo de verdade, pois ainda que seja difícil, somos plenamente capazes de negar nossa egoística natureza genética! Emociono-me só de lembrar.